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ana luisa Moraes

As ondas – Manifesto Sensorial

Atualizado: 15 de set.



Um texto para revelar um tanto os percursos que me levam a criar uma dança para em seguida salientar o que me deparei e me deparo na obra do Manifesto Sensorial.

     

Nos processos criativos artísticos ao longo da minha vida observo as seguintes manifestações recorrentes:


Primeiro vem um ímpeto de criar, pelo Desejo. Não é por um querer, mas por uma necessidade.  Diferente de uma pressão de fora, e sim por uma via que eu mesma me coloco como imprescindível na minha vida. E muito por isso me considero uma Artista. É algo de dentro.


Depois, nasce a próxima etapa: a ação. Aqui, não tenho dúvidas, o quão fundamental é partir do vazio, já que estou tratando de uma criação. Algo novo.


 Como posso criar em cima de velhas estruturas?


O trabalho corporal nesse lugar, e acredito que possa servir para quaisquer expressões artísticas, é uma baita ferramenta para nos esvaziar e fazer esse algo emergir de um lugar mais profundo  e desconhecido. Oco e escuro. E que nos coloca em contato com o mistério.  


Rainer Maria Rilke, em Cartas a um Jovem Poeta, diz sobre “entrar em si e examinar as profundidades de onde jorra a sua vida”. E importante aceitar o que nos é apresentado e sem procurar interpretar, apenas sentir. Aceitar essa espécie de destino, e carregar com seu peso e sua grandeza, sem esperar por  recompensas.


E aqui está a pérola deste texto. O sentir! Eu, como artista do corpo, da dança, o sentir é a manifestação primária de toda a minha arte. Sentir as manifestações do corpo, e no caso, permitir navegar-me nessa percepção mais profunda do corpo, essa colada ao vazio.

Manifesto Sensorial vem deste lugar e parte também junto aos sons vibratórios do Violoncelo, com a Luca D`Alessandro


Nesse vazio sentimental e em exposição nua.... aliás o nu é apenas uma metáfora ... pois quer algo mais corajoso do que expressar esse lugar tão escondido dentro de si? Deparo-me com as Ondas!!


Marés pulsáteis!  Elaborados pelas  vísceras, pelos sopros e todos os meus diafragmas...  


Respir Ação!


Sou banhada por oceanos de líquidos. Sou pura nutrição e origem. Com capacidades de expandir de contrair, de alongar e se encurtar.


Ali, em performance, sou uma re organização pulsátil. Pulsação flexível e adaptável ao que surge. Junto com a Luca, somos elementos capazes de nos expor e devolver ao mundo o que nos está sendo transformado naquele momento. Dentro para fora. Fora para dentro.


Ondas!!


Aproximando-se da praia, cada uma das ondas erguia-se, acumulava-se, quebrava e varria pela areia um tênue véu de água branca. A onda parava, partia novamente, suspirando como um ser adormecido cuja respiração vai e vem inconscientemente.”

Virgínea Woolf, As Ondas




Fotografia: Gustavo Jannini

 

 

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